O Fio da Literatura | Wanderley Alves dos Reis | O Wando |e a Ditadura

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“Mas qual a lembrança que o cantor teria dos fatos políticos do ano de 1968, quando era apenas um feirante em Volta Redonda?” Eu não tinha nenhuma noção do que estava acontecendo, até porque naquela época as informações eram mínimas (Estamos falando de Wanderley Alves dos Reis – O Wando).
A passeata dos Cem Mil, por exemplo era algo totalmente distante de mim. Hoje tenho consciência de que eu morava num barril de pólvora. Me lembro que eu via aqueles soldados e tanques de guerra atravessando as ruas da cidade e tinha muito medo daquilo. Era um negocio que a gente não entendia direito, mas intimidava muito”.
Com a decretação do Ato Institucional n 5 em dezembro de 1968 a chamada linha dura das forças armadas se consolidava no poder, institucionalizado o Estado Ditatorial implantando em 1964. O regime militar utilizou o AI-5 para levar as ultimas consequências o seu modelo político-econômico, baseado no trinômio: segurança-integração- desenvolvimento e apoiado no grande capital privado e estatal, no aprofundamento da exploração do trabalho, na cassação das liberdades civis e numa rígida censura.
Mas o pretexto de que se valeu o presidente Costa e Silva para editar o AI-5 foi o que ficou conhecido como o “Caso Márcio Moreira Alves”.
Na manhã do dia 3 de setembro de 1968, o jovem deputado federal do MDB da Guanabara subiu a tribuna da Câmara para protestar contra a ocupação militar da Universidade de Brasília – fato ocorrido quatro dias antes e que resultou em tiros, espancamentos e prisões de vários estudantes. Refletindo a indignação de diversos setores da sociedade, em que seu discurso, que durou menos de 10 minutos, Marcio Moreira Alves propôs, como forma de protesto, que a partir daquele momento deveria cessar no “Brasil todo e qualquer contato entre civis e militares”. Ele conclamava os pais a proibir seus filhos de participar dos desfiles escolares do 7 de setembro sob o argumento de os estudantes não deveriam sair as ruas ao lado de carrascos que os espancam e os metralham. Mas o orador foi ainda um pouco mais ousado e defendeu que este boicote poderia alcançar também o leito conjugal, sugerindo ás mulheres dos militares mirarem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas que, segundo o texto de Aristófanes, rejeitaram seus maridos para força-los a terminar a guerra contra Esparta.
E Márcio Moreira Alves acrescentava que esta proposta de greve de sexo deveria ser estendida “as moças, ás namoradas, aquelas dançavam com os cadetes e frequentavam os jovens oficiais. Nos quarteis foi pedida a cabeça de Márcio Moreira Alves…
O momento do Anuncio do AI-5, feito pelo ministro da Justiça Gama e Silva através de uma cadeia de rádio e televisão, foi vivenciado de forma marcante por diversos artistas da MPB. Chico Buarque, por exemplo, recorda que naquela noite estava em sua casa vendo TV ao lado do ator Hugo Caravana que, quando ministro terminou de anunciar o novo ato institucional, Caravana virou-se para ele e exclamou: Estamos todos fudidos .
O compositor Geraldo Azevedo, por sua vez afirma que naquele dia ele e o percussionista do show “Pra não dizer que não falei de flores” no Planalto Central.
Foi uma loucura. Vandré ficou louco não sabia o que fazer e o de ele ser preso nos fez cancelar o espetáculo programado para o Iate Clube em Brasília, tomamos o caminho Rio, Vandré, com pose de Che Guevara parecia alucinado, e Nana Vasconcelos as vezes perdia a paciência e dizia” vou dar umas porradas neste cara”.
E onde estariam os cantores “cafonas” naquela noite de sexta-feira, 13 de dezembro de 1968?

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