Navalhadas Curtas – Pena Irritante
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A noite cai em um domingo desmaiado de Covid. O prédio silencioso murmura falas abafadas por portas.
Olhando o corredor tudo parece belo o mundo ideal das pessoas que vivem suas vidas talvez tranquilas e não se preocupam com outras vidas.
Mas isso é um ledo engano.
Vou buscar minha como todos os dias na clínica. Ela está bem dentro do quadro de suas doenças possibilitam.
Fazemos da vida o melhor possível capturando breves momentos de felicidade. As vezes sorri, as vezes chora e as vezes nada.
Chego com ela e seus passos vacilantes, então aquelas pessoas fechadas em seus apartamentos e comportadas em suas casas saem a porta ou eclodem então ficam paradas olhando para mim e principalmente lançam um olhar para minha mãe.
E com uma arma invisível vestida de bondade, de um importar-se, mas não tanto, um verniz social que nos faz parecer pessoas tão boas.
Um olhar de pena, um olhar capaz de matar até alguém são. Pena é um sentimento terrível que muita gente acha bom.
Fico olhando para eles e disparo: e aí tudo bem?
Eles respondem: coisa triste a pessoa ficar assim né?!
Sendo que minha mãe estava ali presente e ouvindo.
Pensei milhares de coisas para dizer mas disse apenas: creio que vocês precisam cuidar da vida de vocês agora, já !
Eles se olharam certamente perceberam que não gostei nada de toda aquela cena, meu olhar através da mascara com certeza dizia várias coisas “lindas”.
Sem dizer mais nada procuraram a saída mais próxima e sumiram da nossa frente.
Minha mãe me pergunta quem eram?
Eu disse gente de bem!
Fio da Navalha.
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